Arroz: património cultural
A Cultura são os olhos que vêem pela primeira vez. O espírito e o trabalho unem as pessoas e evocam a alma de quem os vê.
No vasto delta do rio Mekong, uma multidão de pessoas de vários lugares, e com culturas díspares, agrupou-se para dominar a terra e criar a sua principal colheita. E conseguiram. Actualmente, vários terrenos rurais, incluindo este, converteram-se em autênticas paisagens dignas de se verem, visto que a necessidade de estancar a água nos sistemas dos arrozais formou, em larga medida, paisagens espectaculares.
E o afinco, o sangue e o suor fizeram crescer grandes obras e construções que, no dia a dia, são consideradas “as maravilhas do mundo”. As paisagens dos arrozais não se ficam atrás. Sob o olhar atento do viajante, foram recebendo diferentes significados consoante quem as apreciava. Antes e agora, a terra continua a exigir um grande esforço para a cultura do arroz, para construir e manter o sistema de socalcos ou para harmonizar o modelo de cultura com a erosão do solo, o desprendimento de terras e as necessidades básicas da alimentação.
PARA A HUMANIDADE
A UNESCO declarou os terraços de arroz de Banaue (Filipinas) Património Cultural da Humanidade, quem sabe se pelas suas curvas serpenteantes e inacabadas que sobem até ao cume da montanha, como riscos simétricos que formam garatujas impressionantes. Assim, foram baptizados como “escadas até ao céu”. Segundo palavras textuais da organização, “(…) os altos campos de arroz de Ifugao acompanharam os contornos das montanhas. O fruto do conhecimento dado por uma geração à seguinte, da expressão de tradições sagradas e de um equilíbrio social elevado ajudaram a criar esta paisagem de tão grande beleza, expressada pela harmonia entre o ser humano e o ambiente.
Longi, Ailao Xiang y Guangxi (China) nada têm que invejar. Ali, as simetrias jogam com os reflexos das águas, criando espaços peculiares e únicos que se misturam com as cores explosivas do entardecer. E o mesmo acontece com os imensos arrozais do delta do Mekong, no Vietname, bem como no Bangladesh, na Índia ou na Tailândia. Por toda a Ásia, sucedem-se festas em que o arroz está bem presente. É o caso de Yuan Xiao Jie na China (Festa das Almôndegas de Arroz Glutinoso ou Festa das Lanternas), onde é costume saborear bolinhas de arroz glutinoso (chamadas yuanxiao) que, recheadas de guloseimas, simbolizam a unidade familiar, ou do estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, com a festividade de Pongal.
Por outro lado, no continente europeu, próximo do Mediterrâneo, o panorama dos arrozais planos ao pé das montanhas cobertas de neve dos Alpes convida a sonhar. Uma vista única no norte de Itália, lar dos risottos e pratos de arroz reconhecidos a nível mundial. Fama que também ostenta a paella em Espanha, onde o arroz é igualmente um símbolo cultural da boa sorte, que é o que se deseja aos novos casais, quando se atiram grãos aos noivos. E em África, no delta do Nilo, as pessoas refugiam-se do intenso sol de Verão no ar fresco oferecido pelos frondosos arrozais do seu rio.
Na página da internet oficial da FAO, “o arroz é vida” (http://www.fao.org/rice2004/es/rice1.htm), afirma-se que “não se estão a poupar esforços para conseguir conservar outros sistemas de produção baseados no arroz e declará-los Património Cultural da Humanidade”.